domingo, 10 de fevereiro de 2013

Diário on-line: Bombeiro envolvido em corrupção delata coronéis

http://m.diarioonline.com.br/noticia_html/noticia-235686.html

Denunciado por falsificação de documento público e de valer-se da farda da corporação para atuar como despachante, fazendo consultoria a empresas particulares em processos para obtenção do habite-se de obras de construção civil - no caso em que desponta a construtora e incorporadora paulista Gafisa -, o subtenente do Corpo de Bombeiros Militar, Alexandre Oliveira de Melo, decidiu abrir a boca e contar tudo o que sabe em um depoimento explosivo prestado ao Conselho Permanente de Justiça Militar, comandado pelo juiz-auditor José Roberto Maia Bezerra Júnior, da Auditoria Militar. Melo, que está preso, afirmou que também há coronéis, tenentes-coronéis e alguns praças envolvidos com a elaboração de projetos e orientações técnicas às construtoras, supermercados e outras empresas.

No caso dos oficiais, Melo disse que eles não podem assinar os projetos, porque isso é proibido. Para fugir à proibição, eles se utilizariam de “laranjas”, principalmente parentes. O DIÁRIO teve acesso ao vídeo do depoimento com as acusações feitas por Melo, que para merecer o benefício da delação premiada – espécie de acordo entre o juiz e o réu para que este, contando tudo o que sabe, obtenha a redução de pena em caso de condenação – terá de apresentar provas do que diz.

Ele admitiu ter recebido R$ 220 mil da Gafisa, afirmando que o dinheiro teria sido pago por “orientações técnicas” prestadas à empresa a título de prevenção contra incêndios. Melo disse que não assinou nenhum recibo pelos valores recebidos da Gafisa. O dinheiro foi depositado diretamente na conta bancária dele. “Fui perseguido, tive meu telefone grampeado e passei a ser seguido em meu carro para onde ia”, contou no depoimento, negando, quando perguntado pelo juiz, ter conhecimento da norma da corporação que o proibiria de executar funções paralelas, como prestar consultoria técnica para empresas.

Segundo o acusado, um tenente responsável pelo inquérito contra ele no Corpo de Bombeiros, o escrivão Sandro, teria dito que Melo era o alvo porque todo o problema é que o dinheiro estava indo para o bolso dele e não para o bolso dos outros que também fazem consultoria, como os coronéis. “O presidente do inquérito, coronel José de Ribamar, disse que a consultoria que eu fazia era crime e eu respondi que se era crime outros coronéis também faziam consultorias. Usei um termo: nós seríamos crias dos oficiais”. O coronel Ribamar perguntou por que a expressão “crias” e Melo respondeu: “porque a gente vê e aprende com os oficiais a fazer projetos e prestar orientações”.

Outra revelação foi a de que como os preços cobrados pelos oficiais eram elevados, as construtoras passaram a procurar os praças para que eles prestassem as orientações técnicas. E declarou que isso vem ocorrendo no Corpo de Bombeiros desde 1996. Um integrante do Conselho Permanente perguntou se o subtenente possuía qualificação técnica para prestar consultoria a empresas de engenharia, obtendo como resposta que ele tem certificado de técnico em gestão de segurança privada.

E-MAILS

Indagado se não achava estranho alguns projetos terem sido reprovados pelo Corpo de Bombeiros e os projetos que ele fazia para a Gafisa obterem o documento de “habite-se”, Melo disse que não sabia informar porque isso ocorreu, uma vez que tratava apenas “da execução das pendências dos prédios”. Sobre a acusação de que teria tido acesso às senhas do Centro de Atividade Técnica (CAT) , ele negou, dizendo que sequer comparecia ao local. Quem tinha a senha com a assinatura digitalizada, segundo afirmou, era o tenente de prenome Rudinilson.

Melo conferiu diante do juiz dois e-mails por ele apresentados como supostas provas de que oficiais também fariam projetos e dariam consultoria técnica às empresas privadas. Esses e-mails relatam pedidos de orientação de representantes de empresários sobre a melhor maneira de elaboração dos projetos. Ao final do depoimento, ele sugeriu ao juiz que mandasse lacrar o CAT de Belém e a Seção de Atividade Técnica (SAT), de Ananindeua, onde, segundo afirma, estariam ocorrendo irregularidades.

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