Diário on-line: Bombeiro envolvido em corrupção delata coronéis
http://m.diarioonline.com.br/noticia_html/noticia-235686.html
Denunciado por falsificação de documento público e de valer-se da farda da corporação para atuar como despachante,
fazendo consultoria a empresas particulares em processos para obtenção
do habite-se de obras de construção civil - no caso em que desponta a
construtora e incorporadora paulista Gafisa -, o subtenente do Corpo de
Bombeiros Militar, Alexandre Oliveira de Melo, decidiu abrir a boca e
contar tudo o que sabe em um depoimento explosivo prestado ao Conselho
Permanente de Justiça Militar, comandado pelo juiz-auditor José Roberto
Maia Bezerra Júnior, da Auditoria Militar. Melo, que está preso, afirmou
que também há coronéis, tenentes-coronéis e alguns praças envolvidos
com a elaboração de projetos e orientações técnicas às construtoras,
supermercados e outras empresas.
No caso dos oficiais, Melo
disse que eles não podem assinar os projetos, porque isso é proibido.
Para fugir à proibição, eles se utilizariam de “laranjas”,
principalmente parentes. O DIÁRIO teve acesso ao vídeo do depoimento com
as acusações feitas por Melo, que para merecer o benefício da delação
premiada – espécie de acordo entre o juiz e o réu para que este,
contando tudo o que sabe, obtenha a redução de pena em caso de
condenação – terá de apresentar provas do que diz.
Ele admitiu
ter recebido R$ 220 mil da Gafisa, afirmando que o dinheiro teria sido
pago por “orientações técnicas” prestadas à empresa a título de
prevenção contra incêndios. Melo disse que não assinou nenhum recibo
pelos valores recebidos da Gafisa. O dinheiro foi depositado diretamente
na conta bancária dele. “Fui perseguido, tive meu telefone grampeado e
passei a ser seguido em meu carro para onde ia”, contou no depoimento,
negando, quando perguntado pelo juiz, ter conhecimento da norma da
corporação que o proibiria de executar funções paralelas, como prestar
consultoria técnica para empresas.
Segundo o acusado, um
tenente responsável pelo inquérito contra ele no Corpo de Bombeiros, o
escrivão Sandro, teria dito que Melo era o alvo porque todo o problema é
que o dinheiro estava indo para o bolso dele e não para o bolso dos
outros que também fazem consultoria, como os coronéis. “O presidente do
inquérito, coronel José de Ribamar, disse que a consultoria que eu fazia
era crime e eu respondi que se era crime outros coronéis também faziam
consultorias. Usei um termo: nós seríamos crias dos oficiais”. O coronel
Ribamar perguntou por que a expressão “crias” e Melo respondeu: “porque
a gente vê e aprende com os oficiais a fazer projetos e prestar
orientações”.
Outra revelação foi a de que como os preços
cobrados pelos oficiais eram elevados, as construtoras passaram a
procurar os praças para que eles prestassem as orientações técnicas. E
declarou que isso vem ocorrendo no Corpo de Bombeiros desde 1996. Um
integrante do Conselho Permanente perguntou se o subtenente possuía
qualificação técnica para prestar consultoria a empresas de engenharia,
obtendo como resposta que ele tem certificado de técnico em gestão de
segurança privada.
E-MAILS
Indagado se não achava
estranho alguns projetos terem sido reprovados pelo Corpo de Bombeiros e
os projetos que ele fazia para a Gafisa obterem o documento de
“habite-se”, Melo disse que não sabia informar porque isso ocorreu, uma
vez que tratava apenas “da execução das pendências dos prédios”. Sobre a
acusação de que teria tido acesso às senhas do Centro de Atividade
Técnica (CAT) , ele negou, dizendo que sequer comparecia ao local. Quem
tinha a senha com a assinatura digitalizada, segundo afirmou, era o
tenente de prenome Rudinilson.
Melo conferiu diante do juiz
dois e-mails por ele apresentados como supostas provas de que oficiais
também fariam projetos e dariam consultoria técnica às empresas
privadas. Esses e-mails relatam pedidos de orientação de representantes
de empresários sobre a melhor maneira de elaboração dos projetos. Ao
final do depoimento, ele sugeriu ao juiz que mandasse lacrar o CAT de
Belém e a Seção de Atividade Técnica (SAT), de Ananindeua, onde, segundo
afirma, estariam ocorrendo irregularidades.
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